ABSTRACT
Introdução: O benefício do uso precoce de plasma convalescente com altos títulos de anticorpos neutralizantes contra o Sars-Cov-2 vem sendo descrito. É necessário esclarecer a influência de fatores demográficos e tipagem ABO na formação destes anticorpos. Objetivo: Caracterizar, com base nos aspectos demográficos e tipagem ABO, a população de doadores de plasma convalescente no Brasil e avaliar se tais fatores podem influenciar na formação de anticorpos IgG contra COVID19. Material e métodos: Estudo observacional e retrospectivo, realizado através da análise de dados demográficos etipagem ABO de 1.789 doações de plasma convalescente de sangue total no Brasil feitas entre 04/2020 a 07/2021. Os dados foram correlacionados com a formação de anticorpos IgG contra COVID19. Utilizou-se 3 testes para detecção de anticorpos: qualitativo IgG, substituído pelos da Abbott e Roche, aprovados pelo FDA para qualificação de plasma com altos títulos de anticorpos. Resultados: Encontramos nos 1.789 doadores de plasma convalescente: idade entre 17 e 69 anos. 60,4% homens, 73% brancos, 18% pardos, 7% pretos. Tipagem sanguínea: O (46%), A (39%), B (11%) e AB (4%). Dados semelhantes ao grupo controle de 5.415 doadores de sangue no mesmo período (O: 49%, A: 37%, B: 11% e AB: 3%). 82% dos 1.789 doadores apresentaram anticorpos IgG no momento da doação. Da análise isolada dos grupos demográficos, não houve diferença significativa na incidência de anticorpos comparada à população geral estudada: mulheres (83%), homens (81%), idade entre 17 e 39 anos (81%), 40 e 59 anos (83%), 60-69 anos (84%), branco (82%) e pardo (84%). Demais raças desconsideradas pelo reduzido tamanho da amostragem. Não houve diferença na comparação do percentual de formação de anticorpos IgG entre cada grupo sanguíneo e a população geral do estudo: O - 81%, A - 84%, B - 79% e AB - 74%, sendo o último desconsiderado pelo reduzido tamanho da amostra. Discussão: A resposta imunológica contra Sars-Cov-2 é heterogênea. Estudo chinês relatou que 30% dos pacientes não desenvolvem títulos suficientes de anticorpos neutralizantes após infecção. 18% dos nossos doadores não formaram anticorpos IgG, porém, não se pode afirmar que 82% produziram anticorpos neutralizantes de títulos altos pois a maior parte das doações do estudo foi liberada pelo teste qualitativo IgG adotado antes do uso dos testes da Abbott e Roche correlacionados com atividade de neutralização viral. O tempo e severidade da doença parecem estar fortemente ligados à resposta humoral, porém não foi possível analisá-los pela dificuldade na obtenção de dados. Aspectos demográficos, apesar de menos estabelecidos na literatura, podem estar relacionados com a formação de anticorpos contra coronavírus. Estudos correlacionaram idade avançada e sexo masculino com maior presença de anticorpos IgG e neutralizantes, talvez justificada pelo risco aumentado de doença grave nestes grupos, dado não constatado no nosso estudo. A tipagem ABO pode ter importância na imunopatogênese da doença, com os tipos O e B menos suscetíveis à infecção e o tipo A mais propenso à infecção e doença grave. Não vimos diferença significativa na prevalência de tipagem sanguínea A entre o grupo de doadores de plasma convalescente (37%) e o grupo controle (39%). Apesar da suposta maior gravidade da doença nos pacientes com tipagem A, não houve maior incidência de anticorpos neste grupo. Conclusão: A não correlação entre tipagem ABO ou aspectos demográficos com a formação de anticorpos IgG contra Sars-Cov-2 pode decorrer da nossa limitação inicial para caracterização de anticorpos neutralizantes ou correspondentes. São necessários estudos adicionais para verificar todas as associações propostas neste trabalho.
ABSTRACT
Introdução: O Bortezomibe (Velcade®) é um inibidor do proteassoma, especificamente do proteassoma 26S, cuja ligação irreversível leva à ativação de cascatas de sinalização que culminam com a parada do ciclo celular e apoptose. Ele foi aprovado e incluído como quimioterapia de primeira linha nas Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas do Mieloma Múltiplo (Portaria n.° 2017) publicadas em agosto de 2015 mas apenas em setembro de 2020 foram publicadas três Portarias do Ministério da Saúde que incorporaram este medicamento para o tratamento de pacientes com Mieloma Múltiplo no SUS (para pacientes não tratados, inelegíveis ao transplante de células-tronco;para pacientes não tratados, elegíveis ao transplante e para pacientes previamente tratados). Esta incorporação permitiu o uso mais amplo desta medicação e trouxe à tona complicações possivelmente relacionadas ao seu uso como a reativação de citomegalovírus e suas diversas formas de apresentação clínica como pneumonites, infecções gastrointestinais, hepatites, encefalites, retinites, entre outras. Série de casos: No ano de 2020, foram identificados 5 casos de infecção por citomegalovírus em pacientes em tratamento de Mieloma Múltiplo e Amiloidose em uso de esquemas quimioterápicos contendo Bortezomibe no serviço de Hematologia e Hemoterapia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto/SP. Três casos foram identificados na investigação etiológica de diarréia subaguda, um foi identificado na estratificação de colite neutropênica com características enteroinvasivas e o último na investigação de pneumonite aguda com sinais de infecção viral em tomografia de tórax (neste caso, foi excluída infecção por Covid-19 após dois testes PCR-RT negativos). Em todos os casos, após identificação da infecção por CMV (por sorologia - Elisa e confirmação de carga viral por PCR-RT), foi instituída terapêutica específica com antiviral, tanto Ganciclovir endovenoso quanto Valganciclovir via oral. Apesar da alta morbimortalidade associada a esta infecção em pacientes imunossuprimidos, apenas um dos cinco pacientes faleceu de complicações associadas. Discussão: A soroprevalência elevada de infecção por citomegalovírus no Brasil está relacionada a fatores socioeconômicos e condições precárias de saneamento básico e aumenta a morbimortalidade em pacientes imunossuprimidos. O uso mais frequente do Bortezomibe como primeira linha em pacientes com Mieloma Múltiplo e Amiloidose no nosso serviço e no Brasil traz à tona este agente como diagnóstico diferencial nas suspeitas clínicas infecciosas de diversos órgãos e sistemas.